
Correio Sport – Como está a correr a temporada no PAOK de Salónica, da Grécia?
Sérgio Conceição – Muito bem. Estamos acima das expectativas. O nosso objectivo passa por chegar a um lugar europeu e ir o mais além possível na Taça da Grécia.
– Que opinião tem de Fernando Santos, o seu treinador?
– É um excelente profissional. Prepara muito bem os jogos, trabalha como ninguém e acha que um jogador não deve ter limites.
– Pode dar um bom seleccionador para a Grécia?
– Sem dúvida. Conhece muito bem esta realidade e tem a aceitação dos jogadores.
– Não sente saudades da Liga portuguesa?
– O meu país sempre teve dificuldade em segurar alguns jogadores. Tinha 21 anos quando fui para a Lazio e era normal que o FC Porto não me conseguisse segurar. Foi a maior transferência do futebol português à época. Só tinha custado uns equipamentos quando fui da Académica para o FC Porto. O FC Porto acabou por ser pequeno para o que eu queria ir ganhar.
– Vê-se como uma espécie de Cantona do futebol português, pela rebeldia?
– (risos) Não. Se calhar sou pior do que ele. Sou muito frontal, muito sincero e impulsivo. Cometi alguns erros, mas hoje enfrento-os de maneira muito tranquila.
– Que imagem tem do futebol em Portugal?
– É um meio onde prevalece a hipocrisia, a mentira, os jogos de empresários e dirigentes e a tentativa de esconder. Há muita gente que se promove à custa do futebol. Não gosto de mentiras e de hipocrisia.
– Precisou dessas pessoas?
– Não. Nunca tive padrinhos, mas não foi por isso que deixei de ganhar dinheiro e de representar grandes clubes.
– Do que é que se arrepende?
– Daquilo que não fiz em termos gerais. Do que fiz, não me arrependo de nada. Os meus problemas foram muito empolados. A minha imagem nunca foi a de um jogador simpático.
– Faltou-lhe reconhecimento?
– É possível. Diziam que eu era um jogador muito competitivo, mas para se ser competitivo era preciso talento.
– Falou de hipocrisia e pessoas que usam o futebol para se promoverem. Gilberto Madaíl e Luiz Felipe Scolari fazem parte desse grupo?
– Em relação a Scolari, posso dizer--lhe que, numa das primeiras conversas que ele teve com os capitães, ele disse que a Selecção era um trampolim para chegar a um grande clube europeu.
– E Madaíl?
– Madaíl escolheu Scolari para se esconder atrás de um campeão do Mundo, depois do alegado fracasso do Mundial de 2002. Fê-lo de uma maneira mal conseguida, porque tinha tudo para ganhar o Europeu de 2004 e falhou. Há tachos na Federação.
– É preciso uma renovação nos dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol?
– Sem dúvida. A Selecção merece mais do que as pessoas que lá estão.
– Refere-se também a Queiroz?
– Não. Quero acreditar no trabalho do professor.
– Teve alguma explicação para deixar de jogar pela Selecção?
– Nunca. Era o mínimo que esperava. Faltou frontalidade a Scolari e a Madaíl. Mas tenho a certeza de que não foi por motivos disciplinares, como quiseram fazer crer.
– Na Selecção deixou de jogar, não quis agarrar a oportunidade de actuar no Sporting. Porquê?
– Gostava de ter jogado em Alvalade, mas não resisti ao apelo da Lazio. Tinha casa em Roma, tinha ganho títulos lá e o meu desejo de regressar era grande. Escolhi de acordo com o momento.
– O que espera do clássico?
– Um bom jogo. O FC Porto está melhor animicamente, pelo resultado a meio da semana, e é favorito. Há poucas equipas em Portugal a poder ombrear com o FC Porto.
– Já pensou no final da sua carreira?
– Já. Tenho 34 anos, o PAOK propôs-me renovar por mais um. Tenho de pensar na minha mulher e nos meus quatro filhos. Se não aceitar, pondero acabar a carreira.
– Então não gostava de terminar em Portugal?
– Onde?...
– Na Académica, por exemplo?
– Gostava, efectivamente, de voltar, mas como dirigente.
– Como vê as possíveis chamadas de Liedson e Paulo Assunção à selecção nacional?
– A culpa não é deles, mas sim dos dirigentes que estão à frente da Federação.
PERFIL
Sérgio Paulo Marceneiro Conceição nasceu no dia 15 de Novembro de 1974, em Coimbra. Com raízes humildes, conquistou a carreira a pulso. Depois de ter brilhado ao serviço do FC Porto, com dois títulos nacionais, foi para os italianos da Lazio de Roma, por dois milhões de contos. Também em Itália, foi campeão, ao lado do companheiro e amigo Fernando Couto, tendo ganho ainda uma Taça das Taças. Depois, despertou o interesse de várias equipas ainda mais desafogadas financeiramente, em especial o Inter de Milão. Antes assinou pelo Parma, mas contra a sua vontade. Voltou ao FC Porto, em 2003/2004, para ser treinado por José Mourinho. Foi campeão nacional. Pela Selecção, somou 56 internacionalizações A – e ficou na memória pelos três golos à Alemanha na fase final do Europeu de 2000. Scolari afastou-o em 2003.
Fonte Correio da Manhã por Nuno Miguel Simas
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