Actualidade: Entrevista a Fernando Gomes: "É uma evidência que o ambiente dentro da selecção é melhor"



Por inerência do seu cargo na Liga, é o primeiro vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Teve uma palavra a dizer na reunião que decidiu, por unanimidade, o despedimento de Carlos Queiroz. Era inevitável essa saída do seleccionador?

As minhas opiniões, e aquilo que pensava, disse-as naquele local e perante os colegas da direcção da Federação, nomeadamente o senhor presidente. Expressei a minha opinião em função dos factos que foram do meu conhecimento, naquela sede, com plena consciência do que deveria ser feito. E só nessa sede tecerei qualquer comentário. Sobre matérias que respeitem à Federação, é ela que o deve fazer. Da mesma forma que não quero meter-me em assuntos da Fede-ração, também exijo que as pessoas da Federação não se metam em assuntos da Liga. A esse respeito, estas duas entidades têm de ser salvaguardadas.

Mas é membro de pleno direito da Direcção da Federação Portuguesa de Futebol.

E no local próprio manifestei a minha opinião.

E a sua opinião é que hoje a selecção está melhor do que há um mês?

Creio que é uma evidência que o ambiente que hoje se goza dentro da selecção é melhor que o que ocorria há cerca de um mês.

Além do ambiente, os resultados. A equipa parece mais bem dirigida? Quando fala de ambiente, fala de quê?

Do ambiente generalizado, a motivação dos jogadores é evidente.

A selecção ganhou com a mudança?

Os resultados assim o demonstram. E o estado de espírito dos próprios jogadores em campo e a sua forma, inclusivamente motivacional, dá claramente a ideia de que foi positiva a mudança.

A Direcção da Federação conhece o contrato que Carlos Queiroz tinha com a selecção?

Não posso dizer. A minha entrada como membro da Direcção da Federação ocorreu no dia 14 de Julho de 2010, e passadas duas reuniões tivemos conhecimento das duas grandes linhas gerais do contrato que existia dois anos antes com o professor Carlos Queiroz.

Espera que a Federação consiga não ter de pagar nada no final deste processo?

Esse é um problema que está entregue ao departamento jurídico, que entendeu, através de um parecer solicitado sobre as razões objectivas, que havia motivos para resolução do contrato de prestação de serviços que tinha sido celebrado.

Acha normal que um treinador receba 10% da participação de uma selecção numa grande prova internacional de futebol?

Não conheço em particular essa questão de prémio. O que acho normal é que qualquer profissional envolvido no cumprimento de objectivos possa, e dentro da prática que é comum, ter uma retribuição adequada e interligada com o sucesso.

E 10% são adequados?

Não conheço em particular a questão dos 10%. Não estive envolvido nas negociações. Não quero opinar sobre questões que não conheço na profundidade. Hoje poderemos dizer que 10% ou 5% é muito, mas o contexto em que as decisões têm de ser tomadas tem razões que nós desconhecemos. E só conhecendo-as, estando intrinsecamente dentro do contexto em que elas são tomadas, é que podemos opinar adequadamente.

Gilberto Madaíl informou-o da viagem a Madrid em que tentou trazer Mourinho para orientar os jogos com a Dinamarca e a Islândia?

Não.

Acha que fazia algum sentido essa ideia?

Não conheço em profundidade as motivações dessa ida; portanto, não posso opinar sobre aquilo que lhe esteve subjacente. É aquilo que já disse. Não conhecendo o contexto em que essa decisão foi tomada, é muito difícil para mim opinar se foi ou se era uma boa medida.

Mas gostava de ver José Mourinho na selecção?

Sim. É hoje reconhecidamente um dos melhores, senão o melhor treinador mundial. Não me repugnava nada, bem pelo contrário. Mas deixe-me dizer que hoje o Paulo Bento é o nosso seleccionador. É o meu seleccionador de Portugal.

E antes de ser seleccionador teve o seu voto?

Não se pode colocar a questão de voto, porque o presidente Madaíl, nessas questões, arca com a responsabilidade da escolha do seleccionador.

A Direcção não escolheu outros nomes?

Que eu tivesse participado nalguma reunião para discutir nomes, não.

Acredita que Gilberto Madaíl vai recandidatar-se a presidente da Federação?

Não falei com ele exceptuando palavras de circunstância no último Portugal-Dinamarca. Não sei se ele irá recandidatar-se. Numa conversa anterior, achei-o bastante desgastado e não me pareceu muito motivado para ser candidato à Federação. Mas as últimas declarações que tive a oportunidade de ouvir dão-me a ideia de um presidente Gilberto Madaíl diferente, não dizendo que é candidato mas pelo menos deixando entreabrir alguma porta relativamente a essa possibilidade.

Todas essas expectativas que têm estado na praça pública, com diversos candidatos a posicionar-se, todas essas pessoas vão ter de esperar por melhor oportunidade?

Não vou comentar isso. Aliás, assumi um compromisso com os pre-sidentes dos clubes no último Conselho de Presidentes, de que relativamente a esta questão, enquanto presidente da Liga, tenho um dever: a minha opinião é a opinião que os presidentes dos clubes quiserem. Porque o tempo em que o presidente da Liga era uma coisa e os clubes outra terminou. Neste momento, o presidente é o que os presidentes e os clubes quiserem. O que referi foi que deveremos fa-zer tudo o que estiver ao nosso alcance no sentido de adequar os Estatutos da Federação ao regime jurídico das federações desportivas.

Para que a FPF deixe de estar ilegal face à lei portuguesa?

A FPF não está ilegal. Essa é uma noção não completamente correcta. Os Estatutos da FPF não estão adequados ao regime jurídico das federações desportivas, que é diferente de estar ou não ilegal.

Portanto, não tem seguido aquilo que a lei advoga?

Não! A própria Federação, enquanto associação de direito privado, pode tomar a decisão de não ajustar os seus Estatutos ao regime jurídico das federações desportivas.

Perderá com isso alguns direitos perante o Estado português...

Nessa circunstância, terá de arcar com as responsabilidades decorrentes da não adequação, que é a perda do estatuto de utilidade pública. Agora, não é uma questão de ilegalidade!

Muito directamente, gostava que Gilberto Madaíl fosse de novo candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol?

O presidente Gilberto Madaíl esteve ligado a uma época de ouro do futebol português, com as suas virtudes e também com os seus defeitos. Não podemos esquecer o que ele produziu e conseguiu para o futebol. Hoje, o futebol português tem presença nos organismos internacionais, ao nível do Comité Executivo da UEFA e nos comités da FIFA. E muito desse prestígio angariado deve-se ao presidente Gilberto Madaíl. No que diz respeito a mim próprio e à Liga, interessa-nos determinado tipo de comprometimentos quanto ao futuro. Ou seja, no que respeita às eleições para a Federação, interessa-nos ter um candidato que assuma determinado comprometimento com a Liga. Há muitas matérias que nós temos de salvaguardar...

Assim, pode ser Gilberto Madaíl, ou não?

O que nos interessa, acima de tudo, é que haja um presidente capaz de, juntamente com a Liga, caminhar no sentido do que entendemos que é a reformulação e um novo espaço para o futebol em Portugal: adequar os modelos competitivos, pugnar pela defesa do jogador português, salvaguarda das equipas B dos clubes... Fonte DN por JOÃO MARCELINO

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