
O selecionador nacional falou sem tabu dos dois próximos jogos frente à Dinamarca e Hungria e da convocação do naturalizado avançado do Sporting. E pelo que revelou, ficou claro que o Levezinho vai mesmo ser primeira opção no ataque de Portugal
RECORD - Carlos Queiroz, em vésperas de a Seleção Nacional se concentrar em Varberg, na Suécia, para preparar o jogo com a Dinamarca, no próximo sábado, vamos começar por falar de Liedson. Porque é que o chamou nesta fase?
CARLOS QUEIROZ - Em primeiro lugar, é um jogador português neste momento, com todos os direitos e deveres de qualquer cidadão português. Em segundo lugar, porque sinto que na atual conjuntura da Seleção merece particular atenção a situação que estamos a viver com os pontas-de-lança. E o mérito do que Liedson tem vindo a fazer no futebol e, tendo em conta as necessidades e limitações que enfrentamos, justificam chamar um jogador que se mostrou identificado com o futebol português ao ponto de querer representar a Seleção Nacional. Em última análise, entendo que o Liedson, com o seu mérito, pode dar um contributo importante à Seleção.
R - Mas é uma opção para o imediato, não olhando para o futuro, atendendo a que se trata de um jogador com 31 anos?
CQ - Repito, o mérito do jogador, o que ele vale e a conjugação da realidade que envolve a área dos avançados justificam claramente esta decisão. Naturalmente, todos sabemos que tem 31 anos, mas também sabemos que, pelas suas características, pelo seu passado no Sporting, com poucas lesões, é um jogador que poderá fazer tranquilamente mais três ou quatro épocas e por isso tem um espaço de tempo ainda grande para contribuir para os êxitos da Seleção.
R - O facto de ele estar há tanto tempo sem marcar um golo não o fez hesitar?
CQ - Não. Acho que, pela experiência que tenho de ter trabalhado com outros grandes avançados, acontece circunstancialmente passarem vários jogos sem marcar, mas depois as coisas voltam ao normal. Acredito que isso vai acontecer com o Liedson - será bom para o Sporting se for já em Coimbra, mas será ainda melhor para a Seleção, pois acredito que vai marcar à Dinamarca e na Hungria. Ainda que possa não marcar, todos sabemos o contributo que ele poderá dar em termos das suas movimentações, das suas características, até para abrir espaços para outros marcarem. O que é importante é que Portugal marque, que ganhe e saia desses jogos com mais 6 pontos.
R - A chamada de Liedson confirmará uma das grandes dificuldades que encontrou neste seu regresso à Seleção? Isto é, a falta de jogadores para várias posições específicas. Afinal, já deu a primeira internacionalização a 12 atletas, mas apenas dois são habituais titulares, Eduardo na baliza e Duda adaptado a lateral-esquerdo.
CQ - É preciso desdramatizar a questão da falta de avançados. Percorri os quatro cantos do Mundo e essa é uma matéria comum em todo o lado. Todos os treinadores querem ter melhores atacantes, melhores goleadores. Em certa medida, é preciso desdramatizar essa questão, repito. O problema maior para alguns jogadores que atuam nessa posição é eles não serem titulares nas suas equipas e não poderem dar o seu contributo de uma forma semanal e sistemática. Vejam-se os casos do Nuno Gomes, um jogador muito, muito pouco utilizado no clube, o próprio Hélder Postiga no ano passado, com a presença do Derlei e do Liedson. No FC Porto, praticamente não há nenhum avançado português; outras equipas, como o V. Guimarães e Sp. Braga, apresentam o mesmo cenário, com muitos jogadores estrangeiros. Esse é um dos problemas maiores, o facto de estes jogadores terem sido prejudicados por não terem tantas oportunidades como é desejável. Qualquer jogador que fique 4, 5 ou 6 jogos de fora estará limitado. O que temos de dizer neste momento é que centraremos a nossa atenção nos objetivos da Seleção Nacional para os dois jogos com a Dinamarca e Hungria. A equipa está estruturada, está balanceada, está a jogar bom futebol, um espírito muito forte e a chegada do Liedson vai ser gerida de uma forma muito simples: é mais um jogador português que naquela área pode dar um contributo à equipa...
R - ... E o facto de o Liedson estar a jogar poderá ser uma vantagem para ele e para a Seleção?
CQ - Claro. Para ele e para qualquer outro jogador. É como com vocês, jornalistas: se fizerem um trabalho por ano, é completamente diferente do que fazer dez por ano ou cinco por semana. Para qualquer jogador que atua regularmente, é natural que a sua forma mental, técnica esteja muito mais apta para responder às exigências da competição.
R - Pelo que se percebe do seu discurso, Liedson vai mesmo jogar e, por isso, não terá necessidade de adaptar Ronaldo ao lugar de ponta-de-lança.
CQ - Vamos esperar. Acho que o Cristiano vai ter uma missão muito especial a cumprir e que é simples: ajudar, como qualquer outro, a equipa a ganhar estes jogos e carimbar o passaporte de Portugal para o Campeonato do Mundo. É um jogador que terá de ter uma liberdade de ação nas zonas mais próximas da baliza do adversário do que normalmente tem tido. Vamos criar mais condições para que ele possa estar mais vezes mais próximo daquilo que ele sabe fazer melhor, que é romper os equilíbrios dos adversários e marcar os golos de que necessitamos para ganhar os jogos.
R - O Liedson vai ser bem recebido?
CQ - Não tenho a menor dúvida. Neste momento, para mim, o fundamental é a equipa concentrar-se nos dois jogos, desdramatizar esta polémica que dá jeito a algumas pessoas para se entreterem com estas coisas. Vamos preparar-nos ainda melhor sabendo que temos um jogador que nos pode ajudar a concretizar esse objetivo, tratá-lo como qualquer outro que vem pela primeira vez à Seleção Nacional, com o mesmo carinho e o mesmo cuidado, da forma mais natural possível, como acontece com todos os outros. Vamos centrar as nossas energias e motivações para os objetivos da equipa. Isto não é acerca do Cristiano, ou do Carlos Queiroz, ou do Liedson. Isto é acerca de Portugal se qualificar para o Campeonato do Mundo. É minha obrigação estimular este sentido de responsabilidade para estarmos concentrados nesse objetivo. Acrescento que, pelo respeito que os adeptos portugueses e todas as estruturas do futebol português me merecem, estarei sempre disponível para discutir esta matéria da integração de novos jogadores na Seleção Nacional, mas noutros momentos, não agora. Estou disponível para debater isto nos contextos apropriados, porque há outras matérias a discutir no futebol português para que os clubes tenham melhores condições de darem oportunidades aos jogadores portugueses. Vou fazer isso, mas não é agora. Fonte Record por JOSÉ CARLOS FREITAS e PAULO SÉRGIO
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