
"Trabalho, talento e coração", foi o que levou a selecção de sub-20 à vitória no Campeonato Mundial de Riade, em 1989, disse Carlos Queiroz, considerando o título um feito “que durará para a eternidade” e que “deixou um legado técnico e profissional para o futebol”. Entre abraços, risos e histórias, faltou apenas a presença de Xavier, Resende, Paulo Sousa e Bizarro no jantar comemorativo dos 20 anos de Riade, que decorreu na terça-feira no Hotel Amazonia Jamor, em Queijas (Oeiras).
Sobre a chave do sucesso na Arábia Saudita, Queiroz não tem dúvidas: “Se disser, ninguém acredita, é uma palavra que as pessoas não gostam muito de ouvir – trabalho. As pessoas preferem ouvir falar em milagres e passes de magia, mas não. Foi muito trabalho e, sobretudo, a capacidade de encontrar gente fantástica e talentos no coração e nos pés”.
“Na altura as coisas foram difíceis para eles. Estes jogadores tiveram de ganhar primeiro para depois terem alguns privilégios”, disse Queiroz, que destacou as diferenças dos tempos de hoje.
“Agora foi uma geração de ouro, que ganhou troféus, alguns dinheiros, e depois pôde comprar diamantes. Quando as coisas são muito fáceis, como hoje, compra-se primeiro os diamantes e depois o troféus. Então confunde-se a geração de ouro com a geração de diamante”, considerou o técnico, afirmando: “No desporto é preciso trabalhar muito, ganhar os troféus e depois ter os privilégios”.
Queiroz disse ainda preferir “viver o futuro” a “celebrar o passado” e sublinhou que os problemas “de agora não são maiores nem menores, são diferentes. Não podemos é pensar que podemos encontrar soluções do século XXI com respostas que foram úteis no século XX, era absurdo”.
“Ontem como hoje, procuro estar um segundo à frente, um metro à frente, pensar mais rápido, pensar antes, porque os nossos adversários no futebol são muito fortes. Nascem mais do que nós. Em Espanha são 40 milhões, nós somos dez, portanto, só aí estão a ganhar e temos de nos preparar quatro vezes melhor se queremos estar à frente deles”.
'LEMBRAR RIADE PARA PROJECTAR FUTEBOL PORTUGUÊS'
Gilberto Madaíl, que na altura ainda não estava ligado ao futebol, confessou que no princípio não acreditou na vitória portuguesa, 'por causa daquela derrota por 3-0 com a Arábia Saudita', justificou, acrescentando que 'nos jogos seguintes viu uma mentalidade ganhadora que em muito se deve a Carlos Queiroz e à sua equipa técnica'.
Mentalidade essa que o presidente da Federação Portuguesa de Futebol quer ver nos nossos dias. 'A vitória em Riade e depois em Lisboa deram a possibilidade aos jogadores portugueses de acreditarem que eram capazes de chegar onde quisessem. Este encontro serve para recordar, mas também transmitir aos mais jovens de que tudo é possível, desde que se queira. É uma efeméride que pode dar força para o que nos falta e que esperamos vir a atingir', disse Madaíl, referindo-se ao Mundial de 2010, na África do Sul.
O responsável do futebol português falava também em relação às camadas mais jovens, 'daquilo que podem atingir e que, dentro de um programa que está a ser planeado, possamos voltar a ter o esplendor daquilo que têm sido as nossas secções, apesar de Portugal ainda estar nos primeiros rankings da Europa e do Mundo nos escalões juniores'.
'Este lembrar Riade também significa projectar um futuro que queremos para o futebol português', afirmou Gilberto Madaíl.
ABIU AS PORTAS AOS FUTEBOLISTAS PORTUGUESES
Não encontraram palavras para descrever o que foi ganhar o campeonato na Arábia Saudita, mas têm consciência do que esta vitória proporcionou a Portugal e ao nosso futebol.
'Abriu as portas' ao futebolistas portugueses e 'mudou as mentalidades' dizem alguns dos 'heróis' de Riade, como Tozé, Brassard, João Vieira Pinto, Jorge Couto e Abel Silva.
O ex-capitão Tozé, que subiu à tribuna juntamente com Queiroz e ergueu a taça em Riade, sublinhou que a vitória mudou a 'forma de pensar' de dirigentes e treinadores em Portugal.
'O jovem no futebol português não tinha oportunidades, abundavam jogadores estrangeiros, nomeadamente brasileiros, e nós, com a nossa humildade e com aquilo que conseguimos, tentamos inverter essa opinião e forma de pensar', disse o antigo médio.
Já João Pinto, considerado um dos grandes futebolistas portugueses, lembrou que, com a conquista do Mundial na Arábia Saudita, os 'clubes começaram a apostar mais na formação'.
'O mais importante foi as portas que abrimos para as outras gerações', frisou João Pinto, que, a par de Brassard, são os únicos jogadores portugueses com dois títulos mundiais. Fonte Correio da Manhã por Patrícia Afonso
Fica o vídeo com imagens do momento do jogo de Glória:
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