O treinador português está a relançar na Lituânia a carreira depois dos momentos menos positivos à frente da selecção sub-21 e Belenenses. Na selecção lituana, Couceiro lidera juntamente com a Sérvia o grupo 7 de apuramento para o Mundial 2010.
Correio Sport – Que realidade foi encontrar na Lituânia?
José Couceiro – Fui encontrar uma estrutura a nível do clube [Couceiro acumulou nos primeiros três meses as funções de técnico no Kaunas, da primeira liga lituana] muitos furos abaixo do futebol português. Por exemplo, os treinadores equipavam-se nos mesmos balneários que os jogadores. A nível de selecção encontrei uma estrutura melhor.
– E em termos financeiros?
– A Lituânia paga pouco em relação a Portugal. Não há nenhum clube que atinja os valores dos clubes portugueses. A nível da selecção, os jogadores lituanos não jogam por haver grande incentivo.
– Tem um bom contrato?
– Não vim pela componente financeira, não é atractiva. Posso dizer- -lhe claramente que não foi pela questão financeira.
– Então como aceitou um desafio num país sem tradição?
– Porque senti a necessidade de relançar a minha carreira. Porque, depois do que se passou nos sub-21, tinha a necessidade de sair. Não era em Portugal que iria relançar a carreira. Tinha hipóteses de ganhar dinheiro noutros lados mas corria o risco de ser esquecido.
– A Lituânia vive um grande momento no apuramento para o Mundial’2010?
– Sim, mas continuo a pensar que os mais fortes candidatos são a França, Sérvia e Roménia. Contudo, não é impossível irmos ao Mundial. No nosso grupo há tanto equilíbrio que o segundo classificado pode nem chegar aos ‘play-off’.
– Quer continuar na Lituânia além de 2009?
– Não sei. Já me propuseram renovar, mas não sei. É muito prematuro estar a pensar nisso a esse nível. Mas confesso que nesta altura gostava de trabalhar em clubes.
– Como vê a prestação de Portugal na fase de qualificação para o Mundial?
– Há um jogo muito negativo, que foi a derrota [2-3] com a Dinamarca em casa, depois há o resultado com a Albânia [0-0]. Portugal antecipou as finais e vai jogá-las já. Tem possibilidades – mas tornou as coisas mais complicadas.
– Carlos Queiroz está a fazer um bom trabalho?
– Está a começar. Os treinadores são avaliados pelos resultados. De uma forma muito injusta. No meu caso, atingir as fases finais não adiantou de nada. Porque as pessoas querem mais. E penso que temos de ter essa ambição.
– Há um ressentimento nas suas palavras...
– É evidente. Não gostei da forma como saí. Agora vê-se que Portugal não vai a nenhuma fase final. A questão é que tudo foi centralizado em mim. Não se pode avaliar o Carlos Queiroz por estes três meses, até porque Portugal não está fora de nada. Se queremos ser correctos e justos não podemos fazer avaliações prematuras, porque ninguém sabe o que vai acontecer.
– O que correu mal na selecção de sub-21?
– O objectivo, quando fui para a Federação, era jogar as fases finais – e conseguimos esse objectivo. Eu é que estiquei esses objectivos, porque queria ir aos Jogos Olímpicos.
– Porque é que não ficou no FC Porto?
– O FC Porto propôs-me continuar, e por vários anos. Eu é que não aceitei.
– Faz um balanço positivo da sua carreira como treinador?
– Ao longo da minha carreira e em todos os clubes por que passei, só no Belenenses tive mais derrotas do que vitórias – e não contam os empates. Se há um aspecto negativo é no Belenenses. Na carreira tenho mais vitórias que derrotas.
– Quem é o mais forte candidato ao título?
– Sinceramente, não sei. Apesar de tudo, continuo a achar que o FC Porto é quem tem maior poderio.
– Já teve propostas para sair da selecção da Lituânia?
– Sim, já. As abordagens têm-me agradado, mas não posso. Tenho um vínculo com a federação lituana e tenho recusado tudo. Quando se está numa selecção nacional a responsabilidade é muito superior. Estamos a mexer com um país e não com um clube.
– Se recebesse um convite de Carlos Queiroz aceitaria?
– Se Carlos Queiroz me abordasse e me convidasse eu voltaria a trabalhar na Federação.
– Com esta direcção da FPF?
– Eu critico as decisões mas não tenho ódio ou rancor. Não sinto anticorpos na FPF. A pressão pública foi muito grande e a decisão mais fácil foi a de deixar cair o treinador. Não tenho nada em termos pessoais contra ninguém.
PERFIL
José Couceiro nasceu em Lisboa a 04-10-1962 (46 anos). Foi presidente do Sindicato de Jogadores. Depois assumiu o cargo de director da SAD do Sporting. Na temporada de 2002/03, chega ao Alverca, onde tem o primeiro contacto como técnico principal. Depois de meio ano no V. Setúbal (2004/05), é contratado pelo FC Porto. Um ano mais tarde torna-se seleccionador dos sub-21. No início desta temporada foi contratado pela federação lituana para seleccionador mas acumulou nos primeiros três meses o cargo com o de técnico do Kaunas. Fonte Correio da Manhã por Filipe António Ferreira
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